quarta-feira, 18 de junho de 2008

Afasia

Numa bela noite clara, me deparei com a espiritualidade. Abro a porta do meu quarto, acendo a luz e um cigarro também pode ser. Nunca havia parado pra pensar nos espíritos, nessas coisas do além,sempre as achei cabalísticas no sentido mais etéreo que isso possa ter. Desde que encontrei Déscartes traço tudo num plano cartesiano e esqueço do resto. Só quero saber se matematicamente é viável e ponto. Somo e divido por dois. Não tenho paciência para religião: a única que aceitei foi o marxismo, mas logo que fundaram o PCB em 1922 pulei fora e adotei o famoso "Tenho espiritualidade independente de religião". Tenho sim, sou um católico impraticável assim como um esquerdista-liberal.
Eis a verdade, minha vida espiritual é um paradoxo. Até que num momento de total catarse (sem propósito, em plena segunda-feira) me entreguei a religião. Fui tocado por um sentimento diferente, parece que desligaram todas as minhas tomadas e assim, deixei de ter razão. Aliás, pra que ter razão sobre tudo? A razão foi inventada para alguns dizerem pouco pra muitos ouvirem. É de um plano de cima pra baixo, colocando todos ao pé da Grande Razão. Contata-se, não obstante, que os seres humanos(e eu odeio usar essa palavra) são pequenos e que muitas coisinhas acontecem e há de se teimar em reduzi-las em fictício, em sugestão, ilusão. São as historietas que aparecem aqui ou acolá, no jornaleiro, na fila do banco, nos fragmentos do cotidiano. São, na verdade, coisas fora da razão que nos fazem viver. Com razão, não há vida.
Por mais absurdo que isso pode parecer às vistas de um intelectual em formação que toma as palavras à ponta de faca ou então, como peças sólidas de um castelo imagético que possa dar conta das convicções, a razão é pouca.

E por não ter razão nenhuma, eu escrevi esse texto.