domingo, 1 de abril de 2007

Introdução à arte de pseudear

Caríssimos amigos,





É que com muita honra que inauguro esse blog, digo, esse pseudoblog. Cansado de tanta lamúria e vocabulário chulo do blog de outrora, faço minha tábula rasa sobre todos os meus votos de adolescente pseudoindie inconseqüente, para entrar numa fase de profunda reflexão. (Não que eu tenha virado um buda ou um pseudozen saibaba.) Já dizia o nosso grande poeta Carlos Drummond de Andrade e um intelectual genuíno: "Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se eterniza, e nenhuma força jamais o resgata." Então, que seja "eterno enquanto dure".





Não sei se vocês perceberam, mas esse blog tratará de assuntos que dificilmente aparecem na mídia, na sua sala de estar, no conforto do seu lar ou até mesmo no insalubre bar que você bebe cerveja quente com seus amigos. Terá muitos assuntos importantes como por exemplo a metafísica de Kant, o surrealismo de Breton, a poesia de Baudelaire, a filosofia de Deleuze e letras de músicas de bandas pseudointelectuais como Los Hermanos. Além disso, teremos frases, textos, citações, ensaios e todos eles cheios de aspas, rebuscamento de escrita e até uma certa aversão em relação ao leitor.





Pseudo, do grego pseudes, não tem significado em si, mas aplicado a outras palavras dá o sentido de falso ou incompleto, tira a legitimidade da coisa. Pseudeando é senão a arte de pseudear, de transformar tudo aquilo em falso ou incompleto, é o "ato falso" (entenderam a analogia com o ato falho de Freud?). Esse blog então tem como finalidade pseudear idéias ou opiniões, a menos que essas estejam com aspas, aí realmente não tem como pseudear. (Tem até tem, mas pseudo que é pseudo respeita os citados em questão).





A idéia principal é que um pseudo a quem vos fala irá ridigir textos pseudos com idéias pseudas. isto é, um pseudo intelectual irá escrever coisas falsas que acompanham um tom irônico (típico de pseudo intelectual). Antes de tudo: O que é ser pseudointelectual?














::O pseudointelectual::





Personagem clássico de festinhas de tendência, aparece como quem não quer nada numa roda de pessoas e começa a interagir com frases de efeito, não necessariamente citações. As atenções então dirigem-se a ele e ele se sente livre para proclamar o seu discurso, de surpreender as pessoas com as notas de rodapé dos livros que ele não leu(talvez tenha até lido) e mais, RECOMENDAR artistas para os outros com certa autoridade.


"Pô leia Foucault, ele tem uma certa dimensão de realidade muito melhor que a de Bachelard" ou senão "Lacan foi um autor calcado na linguagem." Podem parecer ridículos esses exemplos, mas em certos momentos é assim que o pseudointelectual convence seus interlocutores.





Mas não é só de observar que diz quem é pseudointelectual, entender suas razões internas, o que um pseudointelectual realmente pensa. Na maioria das vezes, o psi. (apelido carinhoso) é assim como uma auto-afirmação, de provar para os outros sua capacidade ou melhor sua possibilidade de conhecer (porque conhecer mesmo...). As pessoas entendem que ele explica em minúcias o seu saber e ele compreende que é assim que se deve comunicar. Um exemplo é quando ele esquece o que tem pra dizer ou erra sobre uma informação e alguém o constrange por isso. Ele fica tão infeliz que desarma seu discurso, fica mais pseudo do que é.








Suas vestimentas geralmente são : Óculos (aí se subdividem em 2 classes: O psi. moderno tem o de armação preta e grossa, o do psi. erudito tem armação normal.), calça comprida sempre, blusa que pode variar de botão até aquelas mais soltas de pseudoartistas e o sapato que nunca é tênis. As roupas mais os jeitos são aparentemente o marco, o que veste sua personagem.


No orkut, linguagem moderna de comunicação, ele usa todos os espaços para provar sua pseudointelectualidade. No espaço do quem sou eu, usa frase de escritores existencialistas, os livros geralmente ocupam metade da página pessoal e as comunidades só com nomes ilustres e movimentos que até mesmo não existiram como "A matança de coelhos no maio de 68".




Então, não se surpreenda com coisas que vocês, caros leitores, irão ver aqui nesse pseudoblog (porque o tempo de publicação de um post para o outro será relativo) !!!


“Para fazer um grande trabalho um homem deve ser bastante ocioso tanto quanto bastante aplicado." -- Samuel Butler


obs:





Marquês de Itararé é uma analogia com Barão de Itararé, um escritor comunista do século passado que publicava tirinhas com grande carga irônica sobre as demasiadas situações cotidianas, geralmente políticas. Foi preso e torturado pela ditadura de Vargas, publicou o jornal A Manha (trocadilho com o jornal da época A Manhã). O título desse blog foi inspirado na porta do escritório dele que trabalhava, avisando que poderiam entrar mas que não batessem nele como fizeram com ele na ditadura.