domingo, 19 de outubro de 2008

Barão recomenda:

http://semamorsoaloucura.blogspot.com/2006/09/dama-da-noite.html

"Dama da Noite" de Caio Fernando Abreu.

domingo, 12 de outubro de 2008

A arte de nos movermos cegos

Já há um tempo, assisti "Ensaio sobre a cegueira" dirigido pelo Fernando Meirelles baseado no livro de José Saramago. Fiquei impressionado com a riqueza de vida mostrada no filme, pois não foi nos detalhes escatológicos que prestei atenção, embora seja difícil não fazer isso, mas sim, na situação que os personagens vivenciaram a qual aparentemente parece ser impossível (todos ficarem cegos) e tentei enxergar o que tem de comum com aquilo que vivenciamos.
Não é necessário ir tão longe, quando nos encontramos em situação de desespero e desamparo (embora não exista exatamente palavra que una as duas coisas), tentamos ao máximo sobreviver, recorrer aos mais absurdos artifícios para mantermos boa saúde. Falo de boa saúde no sentido estritamente biológico em que precisamos responder às exigências fisiológicas como por exemplo, se alimentar, descansar, evacuar e até mesmo se movimentar. O movimento é uma exigência fisiológica: É preciso movimentar o estômago para que ele faça a digestão, movimentar os músculos da face para promover a mastigação. No entanto, existem coisas que escapam do movimento puramente fisiológico: A vida é uma delas.
É necessário nos movimentar para viver, do contrário estaria falando do sentido biológico. Por mais que sentimos fome, sede e outras necessidades internas, o nosso corpo não se contenta com esses simples movimentos. Ou melhor dizendo, a vida só é possível na medida que nos movimentamos. Desde os gestos mais simples como o de respirar até os malabarismos que damos em nós mesmos nos relacionamentos. Estamos nos movimentando o tempo todo: Vamos à uma ópera fazendo nossa membrana timpânica vibrar e nos fascinando com a suavidade de tons que cada melodia é colorida, nos sentimos tesos quando estamos diante de uma situação de perigo, contraindo então nossa musculatura. Falamos, mexemos a mandíbula, o lábio inferior, superior... pra ficarmos em alguns exemplos de que como o movimento é complexo, assim como a vida é.
No filme, os personagens caminham morinbundamente sem nome, sem uma suposta dignidade e ainda assim caminham, falam, sentem emoções, o coração ainda palpita e até mesmo os olhos que não vêem se mexem. É essa capacidade de movermos que nos coloca como sujeito em detrimento de um animal que se move por mover. Nós movemos, mesmo que ainda sem uma meta ou direção objetiva, para continuar vivendo: Movemos nossas idéias de lugar, elas tornam a ser outras, fazendo com que todo nosso pensamento mude e então nossas atitudes também mudem e assim vivemos: Nesse ato de mover-se que entre um passo e outro nos amamos, temos saudade, tenhamos ainda possibilidade de viver mesmo que estejamos cegos e com o ambiente insalubre, sem uma ordem moral das coisas.
É nesse "entreact" que vivemos.