sábado, 21 de julho de 2007

Intelectuais: Risco de Extinção

Assim como o sapo Ettus Cabinoicus , os intelectuais estão sumindo! Tornando-se figuras folclóricas de nossa sociedade, santuários de universidades(dignas, é claro), piadinhas para turistas (Um amigo me disse que no museu construído na cidade onde nasceu Freud vende-se um bonequinho do falecido pai da psicanálise que apertando sua barriga ele diz "Tell me about your mother"), além de servir como referências para seus impostores - os pseudointelectuais.

Os intelectuais não são pessoas, elas existem como entidades que habitam o mundo das bibliotecas, lugares genuínos onde se pode encontrar as principais contribuições desses orixás da intelectualidade mundial. Mas quem são os intelectuais?

Os intelectuais são aqueles que estão mais próximos da Verdade. Escalando o Pico das Leituras Negras, atravessam cadáveres de pseudointelectuais que ficaram no caminho, não chegando ao topo, ao ponto máximo onde se encontra a Verdade com V maiúsculo e capaz de dar poderes especiais assim como Deus deu a Moisés para dividir o mar e passar o seu povo. A jornada para Verdade é um épico em que cada intelectual se prepara para enfrentar anos de geadas, sabotagens, barulho na casa do vizinho que atrapalha a leitura até fincar a bandeira com o sobrenome é claro no topo do Pico.

Não satisfeitos, os intelectuais ao chegarem no topo, criticam a Verdade. Batem boca uns com os outros, afim de tomar a Verdade como verdadeira. Assim, é cada mais difícil sobrar Verdade para outros ou até mesmo deles conquistarem as Suas.

São poucos, como eu falei anteriormente. Geralmente são falecidos, é raro hoje em dia chamar alguém de intelectual, mesmo que o sujeito conheça a enciclopédia de cór(que está muito "out" no meio intelectual), as obras completas de filosofia (está nunca saiu) e um pouco de música clássica (para momentos de descontração entre um livro e outro) suas vidas se confundem com as próprias obras.Isso acontece porque um intelectual é assim chamado quando possui uma vasta bibliografia e principalmente se é reconhecida pela sua comunidade.

Aproveitando o exemplo do início,Sigmund Freud. Nasceu na República Tcheca em 1856, mas passou a maior parte da vida em Viena, onde se encontraria com Dr. Joseph Breuer e discutiriam o mais forte testemunho de sua ciência: A histeria. A doença de sintomas claros, sem possuir nenhuma origem orgânica, mas ainda assim alavancava esses sintomas. Oras, em todos esses anos de vida, Freud até seu falecimento em 1939 na capital inglesa, escapando da ocupação nazista, ganhou apenas um prêmio na vida: O Prêmio Goethe em 1930 e mais, pela sua contribuição literária! O criador de uma revolução no tratamento clínico e uma subversão na psicologia merecia só isso? Mas seu poder foi tão oportuno na época que vinga até hoje com termos que não saem da nossa cabeça. Até funks trazem os diferentes termos psicanalíticas como o "Sem caô, sem neurose" ou quem não ouviu por aí alguém dizer "recalcado" ?

Aqui no Brasil REZA A LENDA que temos um intelectual que ultrapassa continentes e mais: Ainda é vivo! :O

Depois de passar um tempo com um grande cantor da década de 70 que cantava hits como "Gita", "Quem não tem colírio usa óculos escuros" e outros, o cabalístico Raul Seixas. O homem se chama Paulo Coelho e é reconhecido como tal por publicar livros que aparentemente são de ficção, mas TODOS têm um fundo moral e se confundem até com os de auto-ajuda. Seu maior sucesso foi "O Diário de um Mago", após uma experiência na caminhada de Santiago e que fez estrear nesse mundo do "book business". Outro livro dele foi "O Alquimista" que foi traduzido pra milhões de línguas e daí tornou-se até membro da Academia Brasileira de Letras e legitimando seu intelecto na sociedade brasileira.

O título de "intelectual" então é flexível quando se trata de lugares, culturas e até educação. Mas o seu poder está na originalidade, na capacidade robocop de unir anos de leitura, pesquisa (alguns fazem mestrados e doutorados) e transformar num panfleto de alcance mundial que balança estruturas políticas, cria polêmica e eterniza sobrenomes.

Foucault, Freud, Canguilhem, Sartre, Lacan são alguns outros exemplos de Oguns que perpassam o corpo dos pseudointelectuais, mas estes não incorporam por terem o "corpo fechado".

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças




Caros leitores,






"Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" do Michel Gondry, cujo trabalho só conhecia pelos videoclipes maravilhosos que ele faz. Na verdade eu tinha assistido esse filme há um tempo atrás, mas sinceramente não tinha gostado muito porque não tinha entendido e não fazia questão de entender: Primeiro porque tinha a Kate Winsley no elenco e ela pôde até ter se superado e feito uma carreira de indicação a oscar, mas a imagem dela como sobrevivente do maior transatlântico e pior filme romanesco (o que é aquela trilha sonora? Credo!) que eu vi em toda minha vida , o "Titanic" não sai da minha cabeça.




Arrasado ao descobrir que sua namorada, Clementine, pagou a um médico para eliminá-lo das suas lembranças, Joel decide fazer o mesmo. Deitado em sua cama e inconsciente enquanto um técnico localiza suas memórias de Clementine e as apaga, Joel, porém, responde mal ao tratamento. Enquanto cada experiência que passou com a namorada ressurge e é brevemente revivida, há alguma parte dele que permanece alerta e se dá conta de que ele não vai se livrar apenas daquilo que lhe causa dor: os bons momentos estão escoando pelo ralo junto com os momentos ruins - e até esses, afinal, ele gostaria de preservar. Em seu desespero, Joel tenta esconder Clementine em partes do seu cérebro que o técnico não mapeou. Ele a leva para as humilhações da adolescência e para as confusões da infância, correndo com Clementine por entre o labirinto daquilo que ele foi antes de conhecê-la, com o técnico sempre em seu encalço. Quanto mais imaterial a namorada se torna, maior sua certeza de que ele está cometendo um erro terrível: com ou sem Clementine ao seu lado, Joel precisa que ela exista.




Aí começa a viagem do Dr. Howards na mente de Joel que irá lidar com experiências que não estavam no seu mapa, mas que faziam ainda um sentido. Mas um sentido diferente daquele quando foi vivido, essa brincadeira de Michel Gondry e de Charlie Kaufman com o "jogo do inconsciente": "O que se apreende do passado, não é, segundo Lacan, aquilo que já foi e não existe mais, nem aquilo que existiu e persiste no que o sujeito é, mas aquilo que terá sido em relação àquilo em que está se transformando...A palavra atual organiza o sentido do passado em função do futuro" (Bezerra citando Lacan em "Subjetividade Moderna e Campo da Psicanálise). Ou seja, a história de Joel e como a de todos nós não é linear, pelo menos a história de sua realidade psíquica, que tem muito mais a ver com a verdade do inconsciente que está em constante transformação. São experiência inconscientes que como palavras de um texto em língua estrangeira, quando retiradas do seu contexto para tradução, pode haver vários sentidos.






É assim que segue a impossibilidade de uma perturbada "arrancada" de Clementine da sua história, ela está em outras experiências, adquirindo novos sentidos, ganhando força em outros campos e com a própria ajuda de si, fazendo resistência a própria escolha de apagá-la.


"Nos vemos em Montauk" seria então o que ficou dessa experiência, não faz mais sentido como de antes, mas como na louca, porém brilhante e necessária edição do filme mostra no início que na verdade foi "pós-retirada de Clementine da memória", ou seja, o fim, que Joel mata o trabalho, sai do seu destino pra repetir algo que ele já fez e acha que é inédito. É como se alguma coisa retornasse de alguma forma com um sentido rearrumado, não necessariamente o mesmo. E como Clementine também passou pelo mesmo apagão, corre atrás do sentido, tenta revivê-lo de outra forma.




Então é isso, minha gente. Pseudopsicanálise também vale! E no próximo post (calma eu já vou publicá-lo) será sobre os intelectuais que ainda existem... Seguindo a linha de explicação sobre este caríssimo blog!


*Ajudaram nessa pseudopsicanálise:

Isabele Buscov(Revista Veja) com a sinopse.

Bezerra Jr., B. "Subjetividade Moderna e o Campo da Psicanálise" In "Freud 50 Anos". Org: Joel Birman.1989,Rio de Janeiro, RJ.