quarta-feira, 18 de julho de 2007

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças




Caros leitores,






"Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" do Michel Gondry, cujo trabalho só conhecia pelos videoclipes maravilhosos que ele faz. Na verdade eu tinha assistido esse filme há um tempo atrás, mas sinceramente não tinha gostado muito porque não tinha entendido e não fazia questão de entender: Primeiro porque tinha a Kate Winsley no elenco e ela pôde até ter se superado e feito uma carreira de indicação a oscar, mas a imagem dela como sobrevivente do maior transatlântico e pior filme romanesco (o que é aquela trilha sonora? Credo!) que eu vi em toda minha vida , o "Titanic" não sai da minha cabeça.




Arrasado ao descobrir que sua namorada, Clementine, pagou a um médico para eliminá-lo das suas lembranças, Joel decide fazer o mesmo. Deitado em sua cama e inconsciente enquanto um técnico localiza suas memórias de Clementine e as apaga, Joel, porém, responde mal ao tratamento. Enquanto cada experiência que passou com a namorada ressurge e é brevemente revivida, há alguma parte dele que permanece alerta e se dá conta de que ele não vai se livrar apenas daquilo que lhe causa dor: os bons momentos estão escoando pelo ralo junto com os momentos ruins - e até esses, afinal, ele gostaria de preservar. Em seu desespero, Joel tenta esconder Clementine em partes do seu cérebro que o técnico não mapeou. Ele a leva para as humilhações da adolescência e para as confusões da infância, correndo com Clementine por entre o labirinto daquilo que ele foi antes de conhecê-la, com o técnico sempre em seu encalço. Quanto mais imaterial a namorada se torna, maior sua certeza de que ele está cometendo um erro terrível: com ou sem Clementine ao seu lado, Joel precisa que ela exista.




Aí começa a viagem do Dr. Howards na mente de Joel que irá lidar com experiências que não estavam no seu mapa, mas que faziam ainda um sentido. Mas um sentido diferente daquele quando foi vivido, essa brincadeira de Michel Gondry e de Charlie Kaufman com o "jogo do inconsciente": "O que se apreende do passado, não é, segundo Lacan, aquilo que já foi e não existe mais, nem aquilo que existiu e persiste no que o sujeito é, mas aquilo que terá sido em relação àquilo em que está se transformando...A palavra atual organiza o sentido do passado em função do futuro" (Bezerra citando Lacan em "Subjetividade Moderna e Campo da Psicanálise). Ou seja, a história de Joel e como a de todos nós não é linear, pelo menos a história de sua realidade psíquica, que tem muito mais a ver com a verdade do inconsciente que está em constante transformação. São experiência inconscientes que como palavras de um texto em língua estrangeira, quando retiradas do seu contexto para tradução, pode haver vários sentidos.






É assim que segue a impossibilidade de uma perturbada "arrancada" de Clementine da sua história, ela está em outras experiências, adquirindo novos sentidos, ganhando força em outros campos e com a própria ajuda de si, fazendo resistência a própria escolha de apagá-la.


"Nos vemos em Montauk" seria então o que ficou dessa experiência, não faz mais sentido como de antes, mas como na louca, porém brilhante e necessária edição do filme mostra no início que na verdade foi "pós-retirada de Clementine da memória", ou seja, o fim, que Joel mata o trabalho, sai do seu destino pra repetir algo que ele já fez e acha que é inédito. É como se alguma coisa retornasse de alguma forma com um sentido rearrumado, não necessariamente o mesmo. E como Clementine também passou pelo mesmo apagão, corre atrás do sentido, tenta revivê-lo de outra forma.




Então é isso, minha gente. Pseudopsicanálise também vale! E no próximo post (calma eu já vou publicá-lo) será sobre os intelectuais que ainda existem... Seguindo a linha de explicação sobre este caríssimo blog!


*Ajudaram nessa pseudopsicanálise:

Isabele Buscov(Revista Veja) com a sinopse.

Bezerra Jr., B. "Subjetividade Moderna e o Campo da Psicanálise" In "Freud 50 Anos". Org: Joel Birman.1989,Rio de Janeiro, RJ.